Lulu: Lou Reed, Metallica e a minha opinião.

Hammet, Ulrich, Reed, Trujillo e Hetfield.

A parceria entre Lou Reed e Metallica tem gerado muita controvérsia por aí.
Os fãs do Metallica têm preferido sangrar pelos ouvidos até a morte a ter que reconhecer o tal "Lulu", projeto em que os dois grandes (e históricos) nomes do rock conceberam juntos. Os fãs de Reed... bem, esses parecem ter realmente abandonado o guitarrista e vocalista em 75 (segundo palavras do próprio Reed) pois até agora poucos se manifestaram por aí.
Paixões à parte deve-se dar méritos à iniciativa.
Sim, porque não se trata simplesmente de música, mas sim de ousadia, coragem e perspectivas musicais. Seria fácil produzir mais do mesmo, juntar dois ícones do Rock, ou do Metal, ou de qualquer vertente do gênero, dois grandes vendedores de disco e ganhar um disco triplo de diamente com qualquer coisa ... mas associar o Rock, cujos fãs são radicais, puristas e, em sua maioria, exigentes, à artistas distintos e com propostas não-comerciais - como as de Reed - não é pouca coisa.
A produção crua, o (não)vocal declamado de Reed (sim! isso é uma característica dele, não um defeito! e quem o critica nesse sentido está demonstrando total desconhecimento da obra do senhor Reed! perguntem à Iggy Pop, David Bowie, N.Y.Dolls, Sonic Youth etc.) sobre as bases instrumentais, as incidentais aparições dos vocais furiosos de Hetfield, tudo foi minusciosamente planejado para que no final das contas a história de Lulu - a dançarina atormentada - transcendesse os limites da literatura, dos palcos e/ou da música.
O violão e voz de "Brandenburg Gate" em contraste com a aspereza de "The View" anunciam que nesse disco nada é Lou Reed, nem Metallica. Algo novo está nascendo. "Pumping Blood" e seu arranjo de cordas deságuam nos riffs poderosos de Hetfield e Hammett. Reed usa o clima aterrorizador para sugerir coisas tipo "bombear sangue sobre o sol" e "agir como uma prostituta". "Mistress Dead" é um mantra violento e agressivo que ganha contornos assustadores quando Reed e seu vozeirão de poeta Beat encarnam o amor desmedido e suplicam "I beg you to degrade me" e "I wish you’d tie me up and beat me", entre outras pérolas da paixão doentia. Em "Iced Honey", Lou Reed prova que poderia cantar como todos e qualquer um - mas não é isso o que ele quer. O grande momento do disco um, porém,é "Cheat on Me": claustrofóbica, sufocante, perpétua, como a dúvida de quem só quer saber "por que você me traiu?".
Pela lógica da história era de se esperar que na abertura do disco dois viesse repleta de frustração - e vem. "Frustration", musicalmente, lembra Black Sabbath, arrastada e pesada, mas aqui é a poesia de Reed quem realmente chamou-me a atenção: uma letra fortíssima que só faz sentido se interpretada dentro do conceito do disco (e logo na sequência de "Cheat on Me"). Nesses momentos eu paro e penso: álbum conceitual é isso - e é para poucos! "Little Dog" é o momento em que deve-se, pateticamente, lamber as feridas causadas pela vida antes de voltar à briga. "Dragon" é um desagravo, uma negação, um momento em que a incerteza, o medo e a fragilidade transformam-se em ira, despeito e vingança, transbordando a parsonagem. Pra fechar, "Junior Dad", a faixa que fez Hetfield e Hammett chorar como menininhas, parece emoldurar a poesia verdadeiramente cheia de sentimento que, sob a voz grave e suave de Reed, parece querer abraçar e redimir-nos todos.
Fim de história? Talvez...
...se os órfãos de "Master os Puppets" extendessem aos outros
a contextualização e o respeito que exigem pra si...
Amostras, letras e mais informações aqui.
Sugiro ainda a leitura desse artigo - equilibrado e coerente.

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