Sobre Elvis e opiniões.


Amigos,
em minha primeira postagem no EMM, bem no Dia Mundial do Rock (e lá se vão quase três anos!) eu quis homenagear aquele que - na minha opinião - ainda hoje é a melhor sinteze do rock em todos os seus espectros: Elvis Aaron Presley. Após discorrer sobre a sua biografia e sua importância histórica para jovens do mundo todo (mesmo que esses não saibam, rejeitem ou desmereçam) encerrei meu texto com um honesto e interpretativo "o primeiro ícone e primeiro traídor do rock". Pois bem. Semana passada, mais precisamente no dia 24 de março, Tony Water Barrett, incauto visitante do Estranho Mundo, interpelou-me querendo saber porque eu havia dito que Elvis era traidor - tudo num clima educado e bem amistoso (como via de regra é). Respondi-lhe num comentário igualmente cordial o seguinte:

"Olá, Tony.
Primeiramente quero agradecer sua visita ao EMM e sua iniciativa de interagir com a gente. É bem mais interessante quando isso acontece assim, trocando idéias e opiniões.

Sobre o Elvis ser o "primeiro traidor" foi meio que uma brincadeira com fundo de verdade. Todos sabemos que o Rock é uma paixão e, como tal, equilibra-se entre o amor e o ódio. Quando surgiu, gravando seu primeiro registro por conta própria apenas para presentear sua mãe, Elvis podia muito bem ser comparado às bandas que bancam suas demos, seus singles, seus álbuns. Nesse sentido há uma ingenuidade primitiva carregada pela força e a vontade de fazer o rock pelo simples prazer de fazê-lo. Isso gerou herdeiros na cena punk, nas bandas de garagem e no rock alternativo/underground e até nas beiras de$$$privilegiada$$$ do Metal. Ao fazer sucesso, ou melhor, ao perceberem que Elvis vendia (mais $$$ aí) sua imagem foi turbinada com filmes, publicidade, participações em especiais de tv ao lado de diversos grandes nomes (e até presidentes!) que agregavam ao Rei do Rock uma justificativa mais razoável (relativo à razão e, portanto, menos meramente apaixonada, relativo à paixão) para que seu sucesso extrapolasse os limites iniciais.

Não vai aqui nenhum julgamento de valor desse período mas é inegável que Elvis foi absorvido pela Indústria da Música e passou a servir-se dela profissionalmente, em outras palavras, passou a "viver do rock" e não mais "viver para o rock".

Atenção: particularmente eu acho esse profissionalismo bem razoável desde que não haja interferências na parte criativa e de personalidade do artista, diga-se de passagem. Até creio que com Elvis foi assim que se deu, já que ninguém poderia mais mudar sua imagem alicerçada sobre sua personalidade cativante, seu vozeirão e sua matriz musical negra.

Mas, como o rock é PAIXÃO, costuma-se provocar aqueles que alcançam o status de "contratado"/"profissional" dssa ou daquela grande gravadora (normalmente multinacional) acusando-os de vendidos, traidores. Sex Pistols, Iggy Pop, David Bowie, Ozzy, Ratos de Porão, Inocentes, Tom Zé, Bad Religion etc.. como se fosse errado - por princípio - alcançar novos patamares tanto de produção quanto de distribuição de seu trabalho. Muitos foram provocados assim e cada um respondeu ao seu próprio modo, hora com irônia, hora com cinismo, hora com descaso, hora com raiva, hora com abatimento e decadência.

No caso de Elvis penso que ele não foi vencido pelo sistema em si (que talvez, naquela época, nem soubesse que poderia construir e desconstruir ídolos como hoje em dia) mas sim pela próprio destino que lhe retirou a feliz liberdade que só uma pessoa sem responsabilidades graves possui. Poder cortar o cabelo, ser fotografado com outros trajes diferentes do que costumava, sair às ruas pra tomar um sorvete, convidar os vizinhos para um aniversário em casa - ou, até mesmo, viajar e deixar a carreira (mesmo que temporariamente). Coisas pequenas que, quando não temos, passamos a valorizar. Coisas simples que são capazes de nos fazer vivos ou mortos-vivos.

A "tal colocação" em si foi mais uma provocação aos fãs de Elvis (entre eles, eu!) que costumam se dividir entre sua fase roqueira ou sua era Las Vegas. Prefiro a primeira fase - como pode comprovar através das minhas postagens - mas respeito opiniões diferentes das minhas. Acima de tudo, respeito e valorizo aqueles que quebram os limites entre "o que querem fazer" e "o que querem que faça", invadindo espaços que seriam inimagináveis anteriormente, subvertendo as ordens estabelecidas e, principalmente, TRAINDO (ou surpreendendo, se preferirem) os que nos querem sempre estagnados, acomodados, previsíveis e modelos para qualquer coisa.
E você, o que acha?
Até mais."


Devo admitir que até hoje Tony Water Barrett não me respondeu.. mas achei tão interessante o assunto que quis compartilhar com vocês. Opiniões sobre o tema são bem-vindas mesmo que sejam discordantes das minhas, afinal a questão na blogosfera é compartilhar e trocar informações e opiniões.
Até mais.

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